Por MARCELO OROZCO
A frase do título, que já se tornou clássica, foi proferida por Lima Duarte num dos episódios do longa-metragem Boleiros – Era uma Vez o Futebol… (1998), de Ugo Giorgetti. Neste sábado, 8 de agosto, Corinthians e Palmeiras – ou Palmeiras e Corinthians, se preferir – decidem mais uma vez o título do Campeonato Paulista numa final direta, algo que já ocorreu em 1936, 1974, 1993, 1995, 1999 e 2018.
Para quem quiser contrariar a frase do Lima Duarte e saber o que é esse clássico do futebol brasileiro, um livro curioso no formato ajudará muito. É Derby: 100 Anos, dos jornalistas Celso Unzelte e Paulo Vinícius “PVC” Coelho, publicado em 2017 pela editora Inbook.
Mais conhecidos hoje por seus trabalhos de comentaristas de TV (Unzelte na ESPN Brasil, PVC na SporTV), ambos são pesquisadores minuciosos da história do futebol e muito atentos a estatísticas e dados, com outros livros publicados. E, apesar de até parecer desnecessário dizer, são torcedores dos times dos quais falam.
Dizemos que o formato é curioso porque, pelo bem da igualdade de tratamento para os dois clubes rivais, são praticamente dois livros em um só volume: 72 páginas para o Corinthians, 72 para o Palmeiras. E as duas partes são dispostas de ponta-cabeça uma para a outra. Você começa a ler por onde escolher.
O livro foi publicado no ano em que celebrou-se o centenário do primeiro confronto entre os dois times. Os dois autores dedicam textos a esse início em suas partes do livro.
Porém, para conhecer a história desse jogo, a obra segue atual, apesar de mais algumas partidas dignas de serem incluídas terem acontecido desde então.
Em cada metade, Unzelte e PVC relembram jogos marcantes, quase sempre favoráveis a seus times. Há alguns clássicos que são recontados por ambos:
- O jogo que deu o título paulista de 1954 ao Corinthians (Unzelte celebra a conquista, PVC fala da camisa azul que o Palmeiras vestiu naquele dia).
- A dramática final de 1974 em que o Palmeiras impediu que o Corinthians fosse campeão depois de 20 anos de jejum de títulos (PVC comemora, Unzelte coloca o foco em Rivellino, o supercraque que nunca foi campeão pelo Corinthians e foi praticamente expulso do clube por causa da derrota).

- A semifinal do Paulista de 1979 em que o Corinthians eliminou o Palmeiras com um gol de canela de Biro-Biro.
- O duelo entre Sócrates e seu marcador Márcio Alcântara nas semifinais do Paulista de 1983.
- O gol no último minuto de Ronaldo Fenômeno, que acabava de chegar ao Corinthians, num Derby que seria corriqueiro pelo Paulista de 2009 em Presidente Prudente.
Além desses jogos com dois enfoques diferentes, cada autor relembra grandes façanhas de um ou de outro clube. São confrontos por campeonatos paulistas, brasileiros, torneio de inauguração do Pacaembu, torneio Rio-São Paulo, Robertão (o pré-Campeonato Brasileiro) e, é claro, Libertadores – com os míticos confrontos de mata-mata de 1999 e 2000, ambos favoráveis ao Palmeiras.
Tem os 8 x 0 do então Palestra Itália em 1933, tem os 5 x 1 do Corinthians com três gols seguidos de Casagrande em 1982, tem adeus de Ademir da Guia, tem Neto no Palmeiras.
Também há toques de estilo pessoal. Unzelte dedica páginas a obras que falaram do clássico – como o livro Brás, Bexiga e Barra Funda (1927), de Antônio de Alcântara Machado, e os filmes Mazzaropi: O Corintiano, Boleiros e O Casamento de Romeu e Julieta). Já PVC prefere a carinhosa memória do primeiro clássico que viu no estádio junto do filho, mesmo que o Palmeiras tenha perdido do Corinthians naquele dia. Ou exaltar um hoje obscuro atacante argentino dos anos 1940, Echevarrieta.

Livros de futebol com levantamento histórico caprichado unido a texto fluente são raros. Muitos dedicados até colecionam uma quantidade riquíssima de informações e dados, mas o que publicam tem um texto infelizmente duro e rígido. Não é o caso com Derby: 100 Anos.
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Adendo: Vale esclarecer que conheço profissionalmente os dois autores. Em todas as vezes em que recorri a eles para a apuração de alguma matéria, tanto Unzelte como PVC foram muito atenciosos, prestativos e generosos.
E, numa curiosa história pessoal, trabalhei diretamente com Unzelte por uma semana em 1993 quando ele veio da revista Placar, da Editora Abril, para ser editor de Esportes no jornal Notícias Populares, onde eu já estava. No final daquela semana, a Abril cobriu a proposta e ele retornou à empresa. Apesar da brevidade dessa passagem, ele sempre inclui o NP em seu currículo nas obras que publica. E, no fim, a saída dele acabou me levando a ser o editor de Esportes do jornal, função na qual acabei permanecendo por sete anos.